The msX Files |
Ainda em 1986, uma pequena empresa de Fortaleza, Ceará fez o que era o 1o.
drive para MSX no Brasil, o DRX-180. A empresa era a Microsol <http://www.microsol.com.br> , e o drive dela era
um de 180 Kb, full height (altura equivalente a 2 baias de 5 1/4"), e a interface era
a famosa, famigerada CDX-2. A Microsol, até então, era conhecida por fabricar
periféricos para o TRS-80. Logo, vendo o filão, resolveu aproveitar o mercado nascente e
lançar um disk-drive para esse micro novo. O sistema operacional era o SOLXDOS (SOL -
Microsol; X - MSX), e foi um exemplo de coisa bem-feitinha, eles juntaram 2 arquivos, o
msxdos.sys e command.com em um só, o solxdos.sys, fazendo algumas melhorias, como o
comando SAVE. Detalhe é que, até onde eu sei, eles não tinham o fonte em Assembly dos 2
arquivos.
Aí vem as perguntas:
- Porque eles fizeram uma interface de drive usando portas, não usando
acesso por endereços de memória?
R.: A despeito de todo o celeuma, de que uma é melhor do que a outra, não
há nada no padrão que exija que seja usada a interface por endereços de memória ou por
porta. Há sim, uma recomendação no "Hardware Specifications" da Micro$oft de
que fossem usadas interfaces por endereços de memória, para prever múltiplos drives na
mesma máquina. Nada obrigatório, apenas recomendado. Todo mundo seguia essa
recomendação, pois quem fazia drives para o MSX tinha acesso a esse material. Só que
material como esse, no Brasil... Fala sério, só a Gradiente o tinha à mão, e você
acha que ela passaria isso para mais alguém? Duvide-o-dó. Ninguem sabia se deveria ou
não, se era recomendado ou não. Só sabia que era possível de ser feito, mas não sabia
o porquê. O que fez a Microsol, então? Pegou o projeto dela, de interface de drive por
portas para o TRS-80, adaptou e botou para funcionar no MSX. Deu certo, então ficou. Daí
se originou a história do 'padrão Microsol' e do 'padrão Sharp', que veio depois. Para
o Renato Degiovani, por exemplo, foi uma maravilha, pois ele já programava no TRS-80,
transformar o seu trabalho foi algo tranquilo. Aliás, o Renato tem também uma
"parcela de culpa" nessa história de "padrão Microsol"...
- E a Gradiente, porque não lançou o seu drive?
R.: Sinceramente, acho que não lançou por pura fudebagem. No lançamento do
Expert Plus, a dita cuja colocou um drive de 3 1/2" dentro dos seus MSXs (inclusive o
acionador era da mesma marca dos usados nos IBM PS/2), logo fazer um drive não era nada
difícil. Agora, conhecendo a Gradiente, vocês poderiam imaginar um FDC maluco,
canibalizado de antigas estações da Cobra Computadores, usando discos de 8", ou
coisa ainda pior. Não sei se fez tanta falta. Segundo depois li, a Gradiente cansou de
ouvir no seu SAC (Servico de Atendimento ao Consumidor) a pergunta: Quando é que a
Gradiente vai lançar um drive para o MSX? Eles respondiam que todos deveriam comprar
drives da Microsol. Quando o usuário falava: "Mas eu quero um da Gradiente!",
eles se calavam, ou desconversavam, ou diziam que não sabiam. Mas tambem com os irmãos
Daniel José Burd e Oscar Julio Burd no marketing para o Expert da Gradiente, não poderia
se esperar muita coisa.
- E a Sharp, porque demorou tanto?
R.: Desconheço seus motivos. Não conheço gente que tenha trabalhado na
Epcom na epoca, e que possa contar o que realmente acontecia lá dentro, ao contrário da
Gradiente. Muita coisa não ficou clara, inclusive o real motivo do sumiço do HotBit do
mercado. A versão mais aceita é a pressão da Sharp japonesa sobre a franquia brasileira
(grupo Machline), pois o MSX concorria com o X68000, da Sharp japonesa. Isso (perda do
direito da marca) provocou o fechamento da Epcom.
- Porque o drive dela era incompativel?
R.: Na verdade a Sharp resolveu seguir o "padrão" mundial, e botou
na rua um drive cujo acesso era por enderecos de memória. Só que na época, o 'padrão'
era Microsol... Já viu, ela foi pichada por estar fazendo o mais certo. Só que ninguem
sabia o que era certo ou errado, esse era o problema.
- Se o padrão MSXzeiro era disco de 3 1/2", porque usar discos de 5
1/4"?
R.: Simples, naquela época o 3 1/2" estava chegando ao Brasil. A
primeira firma a colocar drives de 3 1/2" para MSX foi a Technoahead, no final de
1987 (diga-se de passagem, um drive bem bonitinho!). Até então imperava o 5 1/4",
porque o acionador era mais barato. Mesmo assim, não era qualquer um que tinha drive no
MSX: o drive custava mais caro que o próprio micro, e cada caixa de disquetes era uma
fortuna. Lembro-me dos tempos que uma caixa de disquetes era tão caro, que ganhar um de
presente era uma extravagância. Só para vocês terem uma idéia, o 1o. drive de 3
1/2" que surgiu no laboratório onde eu trabalhava, na UFRJ, foi em 1993. Tinha um
drive de 3 1/2" numa workstation da Intergraph, mas nos micros, só a partir do meio
de 1993. E eu ainda andava com uma caixa de discos de 5 1/4" na mochila. No MSX, vim
mesmo a usar 3 1/2" quando comprei o Turbo-R.
Nota: esfreguem essa na cara dos PCzeiros fudebas que falam mal do MSX
e não respeitam-nos: o 1o drive de 3 1/2" surgiu pelas mãos da Sony para o seu MSX,
em 1984.
- Como era aquela história da fonte "quente" e da fonte
"fria"?
R.: Isso era devido ao tipo de fonte que o drive tinha, dependia do trafo
(transformador). Os 1os. drives da Microsol eram com fonte quente, ou seja: Aquela
desgraça esquentava pacas. Como era tudo um conjunto só (como a da DDX - no caso da DMX
e da Technoahead, a fonte era separada do drive), esquentava todo o conjunto. Com isso,
tudo ficava quente. Na redação da Microsistemas, ficou conhecida a história do sujeito
que queimou a mão ao apoiá-la sobre um drive da Microsol... Sério, foi queimadura de
1o. grau.
Ah, uma outra historinha: Todos sabem que o que importa no MSX era a
interface, não o acionador. Um amigo meu presenciou (e me contou posteriormente) um drive
dar defeito e soltar uma fumaca de cor verde. Isso, VERDE! Adivinha qual era a marca? É,
quem disse Racimec acertou. Já pensaram num MSX feito por ela? No mínimo a fumaça que
sairia da fonte seria da cor do arco-íris!
O drive foi o periférico mais vendido para MSX com certeza, pois somente
tendo um, você poderia usar a MegaRAM, que foi o 2o. periferico mais vendido! =) A
Microsol fez alguns outros periféricos para MSX, como um gravador de EPROM e um cartão
de 80 colunas (por sinal preto - alguém já viu um?), sem contar o drive slim, o DRX-360.
Reza-se a lenda de que eles tinham um expansor de memória (provavelmente um padrão
próprio) pronto, e que estavam portando o Lotus 1-2-3 para o MSX, com esse expansor. Só
não fizeram por causa da pirataria. Isso foi o que eu li, mas não o que eu acredito...
Creio que esse era o objetivo, mas como o código do 1-2-3 era fechado, talvez uma outra
planilha estivesse sendo portada, para competir com o Supercalc 2, convertido do CP/M para
o MSX (assim como o dBase II Plus).
Seguindo o rastro da Microsol, surgiram outros acionadores de disco, e outras
interfaces: Sharp, Technoahead, Laser, DDX, DMX, entre outras. Não lembro de todas, mas
houveram outros tambem. Falando em DDX, confesso em público que eu dei muito dinheiro
para aqueles safados: kit de 2.0, drive, MegaRAM... Se eu soubesse... Mas eu não sabia.
Depois a gente fala sobre a DDX e a MegaRAM.
Antes que eu me esqueça, somem mais essa fudebice da Gradiente: Trocou o
nome das teclas CODE e GRAPH para R GRA e L GRA. Acostumei tanto que até hoje eu me
enrolo...
0 - | O início do MSX no mundo |
1 - | MSX no Brasil - o início |
2 - | A Gradiente e suas trapalhadas |
3 - | Minha história pessoal, os LDs... |
4 - | MSX 2 |
5 - | Ademir Carchano e Prof. Piazzi |
6 - | Falhas de projeto da Gradiente |
7 - | Renato Degiovani |
8 - | O drive da Microsol |
9 - | Sharp lançando, brigas, Apple... |
10 - | Clubes, reserva de mercado |
11 - | A MegaRAM, um dos periféricos + populares do MSX |
12 - | Kits de transformação |
13 - | DDX: surgimento, ascensão e queda |