The msX Files

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Clubes, reserva de mercado:

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   Logo surgiram os clubes em torno do MSX. Só que a grande maioria era um bando de picaretas, mercenários e safados (aliás, como você já deve ter notado, era comum no universo MSXzeiro). Recebiam dinheiro dos associados, mas não enviavam o que prometiam, cobravam caro demais os serviços, ou simplesmente sumiam sem deixar vestígios. Legal, né?

    Um que abriu franquia, inclusive, era o pessoal do Compuclub, ao qual quase me filiei. O Compuclub era de Belo Horizonte, e lidava com diversas plataformas: ZX-81, ZX-Spectrum, TRS-80, TRS-Color, e MSX. Só que cobraram caro demais tudo, e nem tentei. Melhor para mim, já que eles sumiram e deixaram todo um grupo de usuários a ver navios.

    Depois surgiu o MISC (MSX International Service Club), que foi um clube bem popular em São Paulo, abrindo ainda 3 franquias (2 em Santa Catarina). O diretor era o Mário Batista da Câmara Filho, que tinha sociedade na Orionsoft, uma das primeiras piratohouses que pôs suas fitas K-7 à venda em magazines, junto com a Disprosoft e a Engesoft, hoje fabricante de telefones (!!!). Os caras pareciam um clubinho bacana, mas na verdade deram muitas "voltas" em muita gente, como o Ademir Carchano. Faziam as transformações para MSX 2, vendiam MegaRAMs, publicavam um informativo com uma periodicidade aleatória, entre outros 'desserviços'. Deveram muito dinheiro a muita gente, como o próprio Ademir. Tambem ficaram devendo equipamentos a muita gente. Os caras eram safados mesmo, duas provas foram:

    1. O sócio do clube paga a mesma coisa que o carinha que não era e que simplesmente deu uma passadinha lá para ver os preços. Ou seja, a vantagem era o informativo do MISC. Grandes coisas...

    2. Parte (para não dizer tudo) dos lucros do MISC eram usados para contrabandear, via Paraguai, PCs e consoles (NES, MegaDrive, etc...). E este foi o motivo do rompimento do Carchano com o MISC, quando ele soube, saiu.

    Isto foi o que criou a DDX. Sim, eles pegaram todos os esquemas da MegaRAM, do kit MSX2, etc... e passaram para uns caras montarem. Eles montaram, fazendo algumas mudanças. Acontece que o Ademir patenteou todos os esquemas que fez. Para não ganhar um processo, os safados mudavam meia dúzia de coisas, e o Ademir não tinha como provar que os projetos da DDX eram cópias dos dele.

    Assim surgiu a Digital Design, a popular DDX. E depois tem gente que não entende porque o Carchano sentiu tanto prazer em falir com a DDX... (mas isto é outra história)

    Mas tinha gente boa tambem, e o melhor exemplo era a Gama Software, do Pedro Gama. O Pedro morava em Três Rios (estado do Rio), e fez um misto de softhouse e clube de usuários. A Gama Software tinha um informativo, o Informe Gama, tambem com periodicidade louca... Boa quantidade de informação impressa em papel de péssima qualidade... Boa parte dos jogos chegaram ao Brasil por intermédio do Pedro. Isso, sem ter a Internet ao alcance de todos, e com uma reserva de mercado para atrapalhar. O pessoal da Gama foram tambem os primeiros a terem a idéia de usar o SCC (Sound Custom Chip - chip de som da Konami encontrado nos jogos MegaROM da mesma) com outros jogos, assim como colocar o próprio SCC dentro do MSX, ou mais 2 slots externos no espaço extra do Expert (aquele, para o drive de 3,5"). É, o Pedro não era fácil. Pena que a Gama não foi tão longe, de tanto que eles "levaram na cabeça", que a Gama acabou, e eles fizeram um clube na sua própria cidade. O clube cuntinuou até 1994, acho.

    Uma das coisas que eu mais gostava eram os anúncios da Gama: eles faziam questão de dizer o nome da softhouse produtora do jogo que vendiam. Aquilo era apenas curiosidade, mas eu e outros adoravam...

Antes de terminar, um pouco sobre reserva de mercado. Achei por acaso esse texto (que você pode pegar completo na URL que coloquei nas refêrencias), e acho que é interessante lermos a respeito. Sabemos que o mercado foi muito influênciado por essa malfadada reserva, inclusive o nosso, do MSX. É um resumo histórico do que foi a reserva em 15 anos, pelo menos.

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   O surgimento da idéia de reservar o mercado brasileiro de computadores para os fabricantes de informática se deu nos inícios dos anos 70. Multinacionais como Burroughs, IBM, Olivetti, HP etc não mais poderiam fazer concorrência com as indústrias nacionais, o que possibilitaria o crescimento e fortalecimento destas. Após algum tempo (até 1992, que aparentemente foi o prazo de vigência da Lei de Informática), estas empresas já estariam em condições de concorrer com as multinacionais, e o mercado poderia então ser reaberto. Durante esse prazo, seria desenvolvido um know-how genuinamente nacional e o país se tornaria tecnologicamente independente na área de informática.

   Para justificar a proposta de reserva do mercado, foram citados os casos japonês e americano, como exemplos bem sucedidos de protecionismo. A Elebra usou este mesmo argumento em sua propaganda, cujo texto, do General Ulysses S. Grant, Presidente dos EUA em 1870, é reproduzido abaixo:

(...)

   Para a consecução dessa nova política industrial, o governo criou um organismo constituído por coronéis do Serviço Nacional de Informações, o
que despertou logo a ira de alguns setores liberais da classe empresarial (João Carlos Melo, "A incrível política nacional de informática", Edição do Autor, 1982 - fundador da SISCO Computadores, sugere que a inspiração da reserva de mercado veio da então toda-poderosa União Soviética).

   A idéia logo teve acolhida de setores da sociedade que, embora não entendendo de política industrial ("Confusão Eletrônica", Veja, 16-jul-86, p.96 - Muito se fala sobre a Reserva mas pouco se conhece sobre ela) ficaram sensibilizados com palavras de ordem tais como "A Informática é Nossa", "O Mercado é um Patrimônio Nacional", "Abaixo as Multinacionais Sanguessugas", e outras do gênero. Tal lobby foi realizado por várias entidades como a ABICOMP (que defende os interesses dos fabricantes de computadores nacionais), a SBC (que representa os professores universitários de informática), a APPD (sindicato não-oficial dos técnicos de computação) etc.

(...)

   Entretanto, com o passar dos anos, os consumidores foram se apercebendo que a tão sonhada independência tecnológica, se viesse, ainda iria demorar bastante, pois o que se via no mercado eram cópias dos microcomputadores fabricados no exterior, algumas até fraudulentas (Roberto Campos, "Desperdício Ameaça Estabilidade Monetária", Folha, 16-3-86 - O furto de tecnologia do Macintosh efetuado pela Unitron). Além disso, havia ainda três agravantes: (1) Qualidade bem inferior; (2) Muito mais caros; (3) Obsoletos.

(...)

   Dada a importância do microcomputador para as empresas nacionais em geral, e a possibilidade de melhores opções externas, o contrabando logo começa a crescer, chegando mesmo, segundo se diz, a haver hoje um micro importado para cada nacional vendido.

   Dessa feita, não obstante já haver a Reserva logrado produzir bons resultados, embora incipientes, as críticas começam a aumentar, tendo partido até mesmo de seus antigos defensores. E os objetivos maiores de independência tecnológica parecem ficar cada vez mais distantes, o que, em rigor, não é grande novidade, pois a infraestrutura essencial para tal desenvolvimento --- a Universidade --- se encontra há muito em frangalhos.

   Nessas circunstâncias, pretender concorrer com as multinacionais do setor em futuro próximo, quando acabar a Reserva, só pode ser mais um sonho tropical. Claro que a SEI, acuada, nega tudo isto, mas o fato é que os investidores também perderam a fé na Reserva. E sem capital não há trabalho. Pelo menos remunerado.

  Mas existe ainda uma outra desilusão da Reserva: O software. Excluídos alguns casos bem sucedidos (Sistemas de Contabilidade, Folhas de Pagamento e Automação Bancária), nada de muito útil se fez, a não ser copiar os sistemas americanos ("Caso Microsoft x Scopus não foi considerado", Folha Informática, 12-ago-87, p.B2 - A Scopus brasileira, do grupo Bradesco, copiou sem autorização o MS-DOS 3.3 da Microsoft e lançou-o no Brasil sob o nome de SISNE, o que provocou ameaça de processo por pirataria por parte da Microsoft. Nota: Acontece que o SISNE não era uma cópia pura e simples, ele foi escrito em Pascal!). A justificativa dada é que as multinacionais vivem se aproveitando dos países subdesenvolvidos, e que a pirataria é uma forma de "compensação"...

(...)

   Com o pano de fundo acima delineado, nada mais propício para uma cartada internacional contra a Reserva, curiosamente benvinda por muitos usuários: A ameaça de retaliação comercial contra o Brasil, por parte dos EUA ("País Deve Recuar na Informática", Estado, 21-11-87, p.23), como forma de pressionar o governo a acabar com a Reserva, e o consequente recuo da Política de Informática em vigor ("Novas Cartas no Intricado Jogo da Informática", Dados e Idéias, dez-87, p.22 - A SEI cedeu e deixou o Brasil importar o OS/2 da IBM, por pressão das próprias indústrias nacionais de informática. Nota: Deram com os burros n'água, o OS/2 1.x é uma porcaria).

   Tudo isto poderia ter sido evitado se os fabricantes tivessem conseguido cair nas boas graças dos consumidores, que afinal são os que decidirão a sorte da Reserva. Mas, ao que tudo indica, a Reserva será mais uma quimera que não deu certo, pois nenhum país consegue se desenvolver apenas com o mercado e a indústria. Sem a terceira perna --- a universidade --- qualquer mesa cai ao chão.

(...)

   Para que a reserva desse certo no Brasil seria necessário a existência do tripé mercado - indústrias - universidades. Como, entretanto, estas últimas têm sofrido um processo de destruição nos últimos vinte anos, o tripé fica desbalanceado e a reserva não pode atingir seus objetivos de independência tecnológica nacional.

(...)

   Governo brasileiro prefere software americano em lugar do similar nacional.

(...)

   Uma blitz para apreender micros contrabandeados causa revolta nos usuários, um dos quais afirma haver terrorismo de Estado e acusa a Máfia da Informática (os fabricantes nacionais) de terem pedido essa blitz à polícia federal pois não estão mais conseguindo vender sua sucata no Brasil. (Nota: enquanto isso se trazia laptop Toshiba em avião da comitiva presidencial...)

(...)

   Os fabricantes nacionais oferecem cópias piratas de programas americanos, sem pagamento de copyright, na compra de seus computadores. (Nota: os "montadores de micro" tambem fazem isso hoje em dia)

(...)

   Como os usuários brasileiros se defendem da reserva, adquirindo computadores bons e baratos com aparência de nacionais, mas fabricados na China Nacionalista (Taiwan).

(...)

   O padecimento dos usuários de computadores nacionais com uma assistência técnica deficiente e irresponsável.

(...)

   Baixa produção, impostos, juros altos, inexperiência. E a cara informática brasileira não consegue competir.

   Fim do arquivo.

   Referencias:
   - Microsistemas de 1983-1986.
   - Informes do MISC.
   - CPU-MSX no. 10.
   - Mail do Loos sobre o seu encontro com Steve Wozniak, tambem conhecido como Woz, co-fundador da Apple Corp.
   - Documento "Reserva de mercado de informatica: O estado da arte", de Antonio Carlos M. Mattos (06/1988), encontrado em <http://dn.usway.com.br/acm/Public/RES-MERC.htm>  
   - Minha (boa) memoria, mais uma vez.

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0 -  O início do MSX no mundo
1 -  MSX no Brasil - o início
2 -  A Gradiente e suas trapalhadas
3 -  Minha história pessoal, os LDs...
4 -  MSX 2
5 -  Ademir Carchano e Prof. Piazzi
6 -  Falhas de projeto da Gradiente
7 -  Renato Degiovani
8 -  O drive da Microsol
9 -  Sharp lançando, brigas, Apple...
10 -  Clubes, reserva de mercado
11 -  A MegaRAM, um dos periféricos + populares do MSX
12 -  Kits de transformação
13 -  DDX: surgimento, ascensão e queda

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